Será que mais novo é sempre melhor?

 



Um dos flagelos comuns da moderna sociedade ocidental é sua miopia extrema. Temos uma forte tendência de ver nossas circunstâncias atuais ou como as melhores que jamais tivemos ou como algo que sempre foi assim. De modo geral, quando consideramos nossas circunstâncias atuais, falta-nos um horizonte histórico para termos perspectiva.

Do ponto de vista da história da humanidade, a maioria das coisas que fazemos em nosso dia a dia é absolutamente nova. Do ponto de vista da história do mundo, a grande maioria dos seres humanos jamais sonharia com os confortos e luxos de que usufruímos todos os dias.

Por milhares e milhares de anos, os seres humanos tiveram de passar a maior parte do seu tempo trabalhando duro e por muitas horas para conseguir a própria comida, e tudo isso enquanto suportavam ou sucumbiam a muitas doenças e lutavam contra a dureza dos elementos e de seu ambiente. O grosso da humanidade teve de se concentrar em uma única preocupação para sobreviver dia após dia. Por milhares de anos, quando as pessoas oravam “O pão nosso de cada dia nos dá hoje”, oravam com zelo e esperança sinceros de que a cada dia haveria provisão para suas necessidades básicas. A maioria de nós não precisa mais pensar em termos de “pão de cada dia”.

Pode ser que raramente pensemos – se é que o fazemos – nessa comparação entre hoje e o passado. Temos a tendência de nos concentrar no “agora” da nossa vida e do nosso tempo de vida. Esse tipo de visão curta, que podemos chamar de miopia histórica, é prejudicial para nós, por no mínimo, duas razões.

Em primeiro lugar, toda vez que ignoramos qualquer coisa além de nossas circunstâncias, tendemos a pensar que o “agora” é normal. O imediato passa a ser o definitivo e absoluto. Há muitos problemas com esse modo de pensar. Perdemos qualquer tipo de perspectiva crítica sobre nossa maneira de pensar e modo de vida. Perdemos a capacidade de ver nossa vida, nossa cultura ou nosso “mundo” no contexto das circunstâncias e culturas do passado. As crianças reviram os olhos toda vez que seus pais dizem: “Quando eu era jovem, costumava...”. Embora isso canse as crianças, os pais estão ensinando que o que existe “agora” não foi sempre a norma. Como não sabemos como as coisas eram antes de nós, o que é normal muitas vezes se restringe a um período de tempo extremamente curto.

Em segundo lugar, quando perdemos a perspectiva histórica, tendemos a pensar que o novo é sempre melhor. A quantidade de tempo livre que os ocidentais têm hoje é muito além de qualquer coisa que se imaginasse há milhares de anos. Não precisamos mais trabalhar por longas horas na própria terra a fim de produzir nossa comida. Não precisamos construir as próprias casas ou cortar madeira para garantir calor suficiente no fogão. Do ponto de vista histórico, a maioria dos ocidentais tem uma vida luxuosa. Em certo sentido, hoje é melhor do que o passado.

No entanto, será que nossa situação atual é melhor do que o estilo de vida daqueles que vivera, digamos, no século 18? Algumas coisas obviamente são melhores. A medicina é melhor; a possibilidade de estarmos confortáveis em nossa casa é maior. Certamente prefiro escrever isso num computador, que perdoa meus erros e, portanto, é mais eficiente – muito mais do que escrever numa máquina de escrever ou a mão!

Será que mais novo sempre é melhor? Se olharmos para o passado da humanidade, veremos que algumas das coisas que hoje desfrutamos criaram problemas novos e mais sérios. O acesso constante à Internet contribuiu para o surgimento do terrorismo global. Como seria difícil para aqueles que odeiam o Ocidente, atacá-lo, se não houvesse Internet, aviões, armas modernas e relatos na imprensa! Será que o aumento de “tempo livre” criou mais oportunidades para o crime? Será que a proliferação da pornografia contribuiu para uma visão vulgarizada e de mau gosto de mulheres e crianças? Será que ela contribuiu para a ruína das famílias? O agora nem sempre é normal. O que é mais novo nem sempre é melhor.

Trechos da Obra "Por que você acredita?", de K. Scott Olphint, ed.Thomas Nelson Brasil. Esta certamente é uma reflexão que deve se extender a todas as áreas da nossa vida e, principalmente, a nossa vida cristã. 

Pr. Helbert Farinha.

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